entrevista

Professora de balé santa-mariense conta sobre os avanços da dança

Da redação

Fotos; Arquivo Pessoal
No centenário Theatro Treze de Maio, após uma de suas apresentações

A professora de balé clássico Beatriz Fonseca Isaia, 51 anos, ingressou no mundo das sapatilhas aos 4 anos, quando a mãe dela, a pedagoga Norma Beatriz da Fonseca Isaia, 82, escolheu uma atividade para a filha praticar. Nascida e criada em Santa Maria, Bia Isaia, como é conhecida, é de uma família que respira cultura todo o tempo. O irmão, Guido Júnior, 54 anos, já integrou a banda A Bruxa. Filha do empresário Guido Cechella Isaia, 80 anos, Bia tem muito amor para ensinar por meio dos passos de dança. Ela também é instrutora de pilates e mãe de Guida Isaia, 27 anos, Simon Isaia Sampedro, 22, e do pequeno Miguel Isaia Gallo do Prado, 8. Além da dança, Bia se formou em Psicologia pela Universidade Paulista, em 2008, e em Educação Física pela Faculdade Metodista de Santa Maria, em 2016.

Nessa entrevista, ela conta um pouco de sua trajetória:

Diário - Há 47 anos no balé, que evoluções a senhora destaca nesta arte?
Beatriz Fonseca
- Mesmo sendo clássico, houve desenvolvimento das técnicas de balé ao longo dos anos. O virtuosismo é a principal delas. Mesmo assim, temos um repertório a seguir e respeitar. Levamos a Educação Física para dentro do balé. Hoje, existe também a fisioterapia para bailarinos. Quando iniciei, só dançávamos o balé, aprendendo as técnicas. 

Bia na interpretação de um dos personagens do balé Ivone Freire, no musical Coppélia

Diário - De aluna a professora. De que forma ocorreu esse desenvolvimento?
Bia
- Após minha formatura de balé aos 16 anos, dava aulas na escola de dança Ivone Freire. Até os 18 anos, permaneci em Santa Maria. De 1986 a 1988, fui para o Rio de Janeiro, onde continuei a dançar. Após o retorno para o Coração do Rio Grande, segui dando aulas. Em 1989, fui morar em São José dos Campos, em São Paulo. Por 12 anos, dancei na companhia Eleonora Oliosi, onde fiz um curso de psicologia da dança, em 1998, que ensina lecionar o balé clássico. Após 20 anos morando em São Paulo, retornei para Santa Maria em 2009, e continuei a dar aulas. Mas, dessa vez, tinha um projeto social para tocar. 

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Diário - Como e para quem é esse projeto?
Bia
- Esse projeto é voltado para crianças da rede pública de ensino. Resolvi fazê-lo quando cursava psicologia, em São Paulo. Sempre tive o suporte financeiro da fundação Eny. E, quando comecei o projeto, descobri que não é só um processo formativo que faria. Ainda temos o processo educativo, cultural, de disciplina, a vontade de fazer. Quando se ensina a formação desde pequenos, os bailarinos veem que é possível alcançar a dança e todos os processos se desenvolvem juntos. Esse aprendizado serve para a vida pessoal e profissional. O projeto social é um resgate. Vi uma evolução enorme no pessoal que atua no projeto, e esse desenvolvimento eles levam para a vida.  

Em uma apresentação com um dos grupos de dança que faz parte do projeto Dançando para Educar

Diário - Como é dar aulas para crianças?
Bia
- Comecei com crianças de 7 anos. Queria implementar a técnica neles desde pequenos. Tenho meninas que estão comigo desde 2009, quando o projeto começou. O processo formativo e as técnicas devem ser um método rígido para o desenvolvimento da criança. E isso nem sempre é fácil. O balé aceita crianças desde os 3 anos. Mas todos podem ingressar, independentemente da idade. Basta procurar uma escola ou profissional qualificado e aproveitar os momentos de dança. Na escola que trabalho, temos turmas de iniciantes com senhoras. Elas praticam o balé para melhorar a parte física e psicológica. É uma grande satisfação vê-las dançando. 

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Diário - Um dos marcos no balé para meninas é a sapatilha de ponta. Com que idade elas utilizam?
Bia
- A partir dos 10 anos. A ponta é um símbolo e uma grande expectativa para as bailarinas. Quando elas colocam a sapatilha, ficamos trabalhando parte técnica e física por dois ou três anos. Até elas subirem ao palco, temos um longo trabalho a fazer. É sempre uma expectativa, fazer a aula e depois dançar no palco com a sapatilha. Quando eu coloquei, foi uma grande alegria. Sempre amei estar com a sapatilha de ponta. 

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Diário - Destaque algum momento especial nesta trajetória. Houve algo que tenha lhe chamado mais a atenção?
Bia
- Uma aluna, que começou a dançar,em 2009, aos 9 anos, em Itaara, hoje está na Universidade Federal de Santa Maria cursando Dança. No primeiro ano dela, aconteceu um temporal, onde 98% da cidade foi destruída. Mesmo sabendo que não teria alunos aquele dia, fui para Itaara ficar na academia. Quando vejo, ela chegou dizendo que queria ter aula. É um belo exemplo do compromisso que elas adquirem durante o aprendizado de balé. 

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Diário - Mesmo morando fora por 20 anos, a senhora nunca perdeu o vínculo com Santa Maria?
Bia
- Não. Visitava a cidade uma ou duas vezes ao ano. Quando decidi por retornar, vi o quanto ela se desenvolveu. Mesmo com esse avanço, nós, que trabalhamos com a cultura, não podemos esperar, ficar parados. Se cada um fizer algo, a gente cresce junto. Não adianta esperarmos algo cair do céu. A cidadania começa quando a ensinamos aos outros. É tudo pelo exemplo.

Colaborou Natália Venturini

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